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Mulheres pioneiras na Arquitetura e Tecnologia BIM

12 de abril de 2021Tempo de leitura: 6 minutos

Antes de pensarmos em mulheres pioneiras em BIM precisamos olhar para trás e analisar historicamente a relação entre o universo feminino e a tecnologia. A tecnologia sempre foi um ambiente basicamente ocupado por homens e então nos perguntamos, mas porque as mulheres nunca tiveram espaço?, basta olhar a formação inicial onde os brinquedos mais tecnológicos como vídeo games e etc, em sua maioria, são destinados aos meninos, e as meninas ficam com as bonecas e um pouco distantes das inovações.

Ainda analisando dados históricos, no início da revolução industrial, e desenvolvimento de tecnologias voltadas à produção, a indústria era ocupada por homens separando bruscamente o trabalho doméstico do trabalho externo, ficando a cargo das mulheres cuidarem das suas casas, dos filhos, da vida doméstica em si, e só muito tempo depois que começam a ter espaço na indústria e então acesso a tecnologia.

Ao longo da história, muitas mulheres tiveram grandes participações no desenvolvimento da tecnologia, embora em pequeno número, podemos citar alguns grandes feitos como o de Augusta Ada King, Condessa de Lovelace, pioneira na tradução do que foi considerado os primeiros algoritmos, muito antes da existência de máquinas que pudessem processá-lo.

Em 1843, Augusta Ada King, traduzia os textos de Luigi Menabrea, um matemático italiano, sobre as ferramentas analíticas usadas por Charles Babbage, um matemático inglês, chegando ao que especialistas consideram como os primeiros algoritmos da história. Ou podemos trazer outros nomes como “As garotas do ENIAC”, um grupo de seis mulheres que foram as primeiras “computors” da história da informática, ou seja, eram responsáveis por manusear os primeiros supercomputadores com mais de três mil interruptores e botões que ligavam um hardware de 80 toneladas, tudo manualmente.

Entre outros nomes, muitas mulheres fizeram história, mas ainda nos dias de hoje o número de mulheres na área da tecnologia é relativamente baixo, a grande dificuldade que as mulheres enfrentam para entrar na área está diretamente ligada à cultura. Afinal, as profissões relacionadas à TI são vistas majoritariamente como masculinas pois de acordo com essa percepção, a mulher teria uma habilidade “natural” para atividades que exigem atenção e afeto, mas não racionalidade, atributo considerado masculino.

 

Arquitetura, tecnologia e o universo feminino

A tecnologia tem sido grande aliado na evolução da arquitetura, desde o surgimento dos primeiros programas de computação gráfica, o processo produtivo tem evoluído muito, passando a enxergarmos todas as dimensões de um projeto bem como a agilidade no desenvolvimento do mesmo.

Uma das grandes evoluções tecnológicas da arquitetura é a forma de projetar, trazendo o conceito da tecnologia BIM, onde primeiramente se modela o projeto, munindo o mesmo de informações, caraterísticas físicas, térmicas, acústicas e etc, realizando uma pré construção da edificação de forma digital.

Para implantação dessa nova tecnologia, existe uma profissão que é denominada BIM Manager, que consiste no responsável em organizar os processos de produção e informações, bem como coordenar e disseminar a tecnologia dentro das empresas, profissão essa, que é desempenhada por um profissional de arquitetura mas que está talvez até mais conectada com a tecnologia do que propriamente com a arquitetura.

Assim como a tecnologia foi ocupando seu espaço na arquitetura, o número de mulheres na profissão foi aumentando cada vez mais, atualmente vivenciamos uma tendência nas universidades onde os cursos já apresentam uma divisão de ocupação de mais ou menos 60% pelo gênero feminino, percentual que já foi bem diferente nas primeiras turmas de arquitetura.

Como o aumento de mulheres na profissão de arquitetura, existe ainda em menor escala de comparação, a introdução do gênero feminino nas profissões ligadas à tecnologia, ciências da computação, etc, a exploração do gênero feminino nestas áreas se dá a escassez de profissionais no mercado, bem como o aumento da demanda no setor.

 

Principais desafios e depoimentos

Na VZ&CO tivemos o privilégio de, ao longo da implantação da tecnologia BIM, termos muitas mulheres envolvidas no processo, dando espaço para um campo tão pouco explorado pelo gênero. Algumas foram, inclusive, pioneiras nesta profissão de BIM Manager e na disseminação da tecnologia dentro da arquitetura.

Mas não é em todas as empresas que vemos esse caminho aberto para ser ocupado por mulheres, infelizmente ainda vivemos muito preconceito e dificuldades, por se tratar de uma ciência exata, existe muita subestimação de competência técnica para desenvolvimento de tarefas denominadas “masculinas”, tendo em vista velhos conceitos que o gênero feminino teria mais aptidão as funções ligadas à atenção e afeto, distantes então da racionalidade que a função exige.

O fato a ser abordado é que a tecnologia é o futuro e ainda existe uma desigualdade muito grande de ingressantes nas profissões desta área. Estudos demonstram que a preferência feminina ainda recai sobre as áreas de humanas e saúde. Enfermagem, por exemplo, tem 84,4% de alunas.

Historicamente, as matrículas das mulheres no ensino superior são concentradas em determinadas áreas, como ciências humanas, letras e artes, reforçando a divisão sexual do trabalho. Já entre o público masculino, os dados mostram que as áreas de maior inserção estão ligadas às exatas, como as engenharias e cursos relacionados à tecnologia, como ciências da computação, que chega a ter 85,4% de homens.

Ainda dentro da arquitetura, o número de profissionais que se aventuram nas áreas de tecnologia e gerenciamento é limitado em função de uma tendência que cresce em paralelo, levando o maior número de profissionais a atuar nos setores de design de interiores, campo ocupado quase exclusivamente por mulheres.

Dentro da Arquitetura, onde a predominância é feminina, encontramos diversos estigmas. Um exemplo é a maior concentração de mulheres na arquitetura de interiores e a falta delas no gerenciamento de obras. Acabei me encaminhando para um campo predominantemente masculino, na área de tecnologia BIM e o que consigo perceber é essa imposição, mesmo que velada, onde a mulher deve provar a sua capacidade constantemente. Na VZ&CO tive a sorte de encontrar um grupo de mulheres incríveis e fortes que me motivam e fazem eu acreditar cada vez mais em mim, em nós.

Simone Behling – BIM Manager

 

Além da dificuldade de inserção na área de tecnologia, existe uma grande dificuldade de aceitação em áreas de engenharia como no gerenciamento de obras, onde majoritariamente é ocupado por homens e se ter uma mulher a frente de uma obra é motivo de preconceito, gerando um imenso desafio em obter igualdade e respeito indiferente do gênero.

Atuo como gerenciadora de obras em um Projeto de equipe predominante masculina. Como única mulher no canteiro, preciso me preocupar não só com a minha postura enquanto gestora, mas com minha fala e minhas expressões. Sinto constantemente um desmerecimento, ainda que não intencional, quando sou referenciada como a ‘moça’, ao passo que o engenheiro residente é chamado pelo nome ou informalmente de ‘doutor’.

Nathalia Lima – Gerenciadora de Obras

 

A desigualdade salarial é outro fator importante e que deve ser levado em consideração quando o assunto é dificuldades e distinção entre gêneros, as mulheres ganham 30% menos do que homens na área de TI, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, assim como na área de TI essa desigualdade aparece nas profissões de arquitetura, gerenciamento de obras, gerenciamento de projetos, etc.

Muitos estudos associam a desigualdade salarial entre géneros a um comportamento relativamente masculino onde nas empresas os homens negociam mais, solicitam aumento quando as mulheres por relacionarem culturalmente a negociação salarial à conflito, tendem a não batalhar por melhores salários e inclusive em propostas salariais em novos empregos, aceitam o que está sendo proposto.

Outro aspecto relevante que leva os homens a terem melhores salários está totalmente relacionado a carga horária, as mulheres são muitas vezes multitarefas, tendo que atuar como profissionais dividindo-se entre as tarefas domésticas e o trabalho, o que impossibilita maiores jornadas e consequentemente batalhar por vários projetos simultâneos gerando maiores ganhos.

 

Conclusão

A tecnologia é um dos muitos campos a serem melhor explorados pelas mulheres, as profissões do futuro clamam por profissionais qualificados e que atendam a demanda indiferente de gêneros. As barreiras culturais existem e precisam ser derrubadas criando espaços, respeito e igualdade, apoiar as mulheres a desenvolverem funções até então denominadas como masculinas, é um papel social das empresas, é necessário o incentivo para então conseguirmos acabar com a desigualdade.

Hoje podemos dizer que na VZ&CO somos um time pioneiro dentro da cultura de tecnologia dentro da arquitetura, apoiamos mulheres e criamos um ambiente de trabalho saudável, onde buscamos a constante evolução, o respeito e a representatividade, o maior intuito é promover os bons profissionais indiferente do gênero. Entendemos que apoiando mulheres a se aventurarem em áreas até então pouco exploradas, nos fortalece e nos traz maiores resultados, pois acreditamos que #somosmelhoresjuntas.

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